sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Organização


Sou proprietário de um Filofax tamanho a-cinco de cor preto-da-Guiné. É um Filofax original, por isso usei maiúscula, senão teria escrito filofax. Já o tenho vai pra muitos anos e só agora começa a ficar roto nos cantos porque eu sei estimar as coisas como ninguém, a sério, não estou a brincar - já com as gajas é toda uma outra problemática, mas creio não estarmos a tratar disso.

O meu Filofax é assim como uma empresa porque tem departamentos. O departamento ‘agenda’ termina com a folha one-day-on-a-page-style do dia trinta e um de Dezembro, mas depois desse há mais departamentos constituídos por separadores com folhas branquinhas e outras quadriculadas, coisas desenhadas, esquematizadas, escritas, e até algumas mais confidenciais que estão em código, não vá algum olhar indiscreto topar e lixar-me o esquema.

Sou alvo de chacota por parte dos meus amigos modernos por andar com um artefacto destes. Eu próprio, vindo de onde venho, tive muita dificuldade em aceitar-me assim. O certo é que um colega já o considerou uma obra de arte depois de o abrir e folhear; fiquei a sentir-me vitorioso, até dormi muito bem nessa noite e tudo. Por razões de vária ordem, para mim uma agenda barra caderno de notas tem mesmo que ser uma cena em papel, não dá tabeletes da Apple nem me chega o Blackberry do qual sou dependente, além de que o Outlook só me serve para os emails. Evidentemente, nunca poderia afirmar para além de qualquer dúvida que a agenda de papel é a solução certa para mim sem antes ter experimentado tudo (dispenso piadinhas fáceis), coisa que fiz aturadamente e que ainda faço de vez em quando só para ter a certeza de que ainda gosto dela mais do que das outras, mais modernaças. Não sei se estão a ver a base teórica que nasceu aqui e que vou aproveitar para outro post, a ver se não me esqueço. A criatura mulher é que é capaz de não achar muita piada…

Recordo-me com nostalgia de um dos principais dramas que passei aquando do processo de escolha da besta: onde arrumar a caneta – porque tem que haver algo que escreva acoplado àquilo. Mas a Filofax é uma empresa de bem e tem soluções para pessoas como eu, de maneira que o modelo pelo qual me embeicei (‘modelo pelo qual me embeicei’?...  este post está uma bela merda está) tinha uma versão com uma pen loop, não sei dizer isto em português, mas é uma cena que parece uma argola para segurar a caneta. Só faltava descobrir uma caneta que servisse. Andei angustiado durante dias até encontrar na Rotring o que precisava e não fiz por menos, alambazei-me logo a uma 4-pen, que é um equipamento de escrita muito versátil: os senhores da fábrica pegam em mini recargas de várias cores e metem tudo dentro de um cilindro metálico bonitinho e elegante e aquilo tem um mecanismo muito à frente que permite que a gente escolha qual a cor com que quer escrever mediante inclinação do cilindro. Nos modelos mais sofisticados - o meu - os senhores conseguem meter lá dentro também uma lapiseira, o que constitui um grande consolo só vos digo.
Durante anos vivi amedrontado se um dia perdesse a 4-pen e não conseguisse encontrar outra que ficasse à justa no loop, sendo que o medo ganhou contornos dantescos quando oiço que a Rotring tinha ido com os porcos, boato que me foi transmitido com uma convicção ministerial por uma empregada de papelaria lá na cidade suburbana onde eu vivia: nessa altura eu era ainda jovem adulto, tinha muitas borbulhas que me fodiam o juízo até à loucura e acreditava nas coisas ditas pelas pessoas, para além do mais ainda não existia a Wikipedia nem os blogs. Ou então não tinha ligação à internet, já não me lembro bem.

No meu Filofax tenho uma folha que passo sempre de ano para ano e que diz… Ah! Recordei-me neste exacto instante porque comecei o post. Ia escrever só uma frase ou duas e assim fiz, mas depois comecei a tentar lembrar-me da razão pela qual tinha começado e fiquei irritado porque não conseguia, de maneira que fui escrevendo até me conseguir lembrar. Lembrei-me agora, portanto já posso parar de debitar, adeusinho e passem bem.


P.S. Também sou consumidor de Moleskines quadriculados. Têm que ser quadriculados. Desculpem.


6 comentários:

Bafejada pelas Musas disse...

Como conseguiu pôr-me a ler o raio de um post sobre algo que nem sequer conhecia, até ao fim, e ainda fazer com que achasse piada?

Moleskines quadriculados? A sério? Eu sou dada aos lisos...

Miguel disse...

Não sabes o que é um filofax? ... Olha lá... tem calma, há cura para ti.

Delfim disse...

tb sou do clube dos moleskines lisos. Nem sei pq os fazem de outra forma, mas está visto que há mercado para tudo... :)

Miguel disse...

Experimentei Moleskines lisos primeiro. Na.

Bafejada pelas Musas disse...

Eu acho é que não há para ti:)

Miguel disse...

Musa, tu queres ver!