Sou proprietário de um Filofax tamanho a-cinco de
cor preto-da-Guiné. É um Filofax original, por isso usei maiúscula, senão teria
escrito filofax. Já o tenho vai pra muitos anos e só agora começa a ficar roto
nos cantos porque eu sei estimar as coisas como ninguém, a sério, não estou a
brincar - já com as gajas é toda uma outra problemática, mas creio não estarmos
a tratar disso.
O meu Filofax é assim como uma empresa porque tem
departamentos. O departamento ‘agenda’ termina com a folha
one-day-on-a-page-style do dia trinta e um de Dezembro, mas depois desse há
mais departamentos constituídos por separadores com folhas branquinhas e outras
quadriculadas, coisas desenhadas, esquematizadas, escritas, e até algumas mais
confidenciais que estão em código, não vá algum olhar indiscreto topar e
lixar-me o esquema.
Sou alvo de chacota por parte dos meus amigos modernos
por andar com um artefacto destes. Eu próprio, vindo de onde venho, tive muita
dificuldade em
aceitar-me assim. O certo é que um colega já o considerou uma
obra de arte depois de o abrir e folhear; fiquei a sentir-me vitorioso, até
dormi muito bem nessa noite e tudo. Por razões de vária ordem, para mim uma
agenda barra caderno de notas tem mesmo que ser uma cena em papel, não dá
tabeletes da Apple nem me chega o Blackberry do qual sou dependente, além de
que o Outlook só me serve para os emails. Evidentemente, nunca poderia afirmar
para além de qualquer dúvida que a agenda de papel é a solução certa para mim
sem antes ter experimentado tudo (dispenso piadinhas fáceis), coisa que fiz
aturadamente e que ainda faço de vez em quando só para ter a certeza de que ainda
gosto dela mais do que das outras, mais modernaças. Não sei se estão a ver a
base teórica que nasceu aqui e que vou aproveitar para outro post, a ver se não
me esqueço. A criatura mulher é que é capaz de não achar muita piada…
Recordo-me com nostalgia de um dos principais
dramas que passei aquando do processo de escolha da besta: onde arrumar a
caneta – porque tem que haver algo que escreva acoplado àquilo. Mas a Filofax é
uma empresa de bem e tem soluções para pessoas como eu, de maneira que o modelo
pelo qual me embeicei (‘modelo pelo qual me embeicei’?... este post está
uma bela merda está) tinha uma versão com uma pen loop, não sei dizer isto em português, mas é uma cena que
parece uma argola para segurar a caneta. Só faltava descobrir uma caneta que
servisse. Andei angustiado durante dias até encontrar na Rotring o que
precisava e não fiz por menos, alambazei-me logo a uma 4-pen, que é um
equipamento de escrita muito versátil: os senhores da fábrica pegam em mini
recargas de várias cores e metem tudo dentro de um cilindro metálico bonitinho
e elegante e aquilo tem um mecanismo muito à frente que permite que a gente
escolha qual a cor com que quer escrever mediante inclinação do cilindro. Nos
modelos mais sofisticados - o meu - os senhores conseguem meter lá dentro
também uma lapiseira, o que constitui um grande consolo só vos digo.
Durante anos vivi amedrontado se um dia perdesse a
4-pen e não conseguisse encontrar outra que ficasse à justa no loop, sendo que o medo ganhou contornos
dantescos quando oiço que a Rotring tinha ido com os porcos, boato que me foi
transmitido com uma convicção ministerial por uma empregada de papelaria lá na
cidade suburbana onde eu vivia: nessa altura eu era ainda jovem adulto, tinha
muitas borbulhas que me fodiam o juízo até à loucura e acreditava nas coisas
ditas pelas pessoas, para além do mais ainda não existia a Wikipedia nem os
blogs. Ou então não tinha ligação à internet, já não me lembro bem.
No meu Filofax tenho uma folha que passo sempre de
ano para ano e que diz… Ah! Recordei-me neste exacto instante porque comecei o
post. Ia escrever só uma frase ou duas e assim fiz, mas depois comecei a tentar
lembrar-me da razão pela qual tinha começado e fiquei irritado porque não
conseguia, de maneira que fui escrevendo até me conseguir lembrar. Lembrei-me
agora, portanto já posso parar de debitar, adeusinho e passem bem.
P.S. Também sou consumidor de Moleskines
quadriculados. Têm que ser quadriculados. Desculpem.
6 comentários:
Como conseguiu pôr-me a ler o raio de um post sobre algo que nem sequer conhecia, até ao fim, e ainda fazer com que achasse piada?
Moleskines quadriculados? A sério? Eu sou dada aos lisos...
Não sabes o que é um filofax? ... Olha lá... tem calma, há cura para ti.
tb sou do clube dos moleskines lisos. Nem sei pq os fazem de outra forma, mas está visto que há mercado para tudo... :)
Experimentei Moleskines lisos primeiro. Na.
Eu acho é que não há para ti:)
Musa, tu queres ver!
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