quarta-feira, 30 de novembro de 2011


The Anatomy Lesson of Dr. Nicolaes Tulp - Rembrandt, 1632



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O The Economist é feio


Porque plagia as pessoas de bem e ainda por cima fá-lo com classe. Para a sobrelotada plateia, balcão e camarotes que me assistem, têm o link ali abaixo para confirmarem por vocês mesmos se este texto é ou não um copy-cat do que tenho afirmado e defendido no último ano e meio. Assim não vale o esforço de andar páqui a escrever blogs e a conversar com os amigos. Um gajo anda nesta vida a tentar ser sintético e a não conseguir e depois aparecem-me estes gajos que em meia dúzia de parágrafos têm o desplante de sintetizar dias e dias de verborreia e confusão mental. Vou começar a ficar calado, a remeter para o Economist e tá a andar.


Já que foram lá espreitar, aproveitem. Vale bem o tempo gasto.


sábado, 26 de novembro de 2011

O meu departamento de títulos está confuso


Sacristas, tenho novidades. Ontem bateram-me no carro. Carro de mercadorias em manobras alucinadas, batida grande. Eu não estava lá dentro mas houve testemunhas que me encontraram e me transmitiram a matrícula. Chego à esquadra, introduzem a matrícula no espectacular sistema informático interno, não conferia com a descrição do carro. Estava errada. A testemunha insiste, diz que anotou no telemóvel e tudo (tou mesmo a ver, erro de digitação). Ao mecânico espera-lhe uma prenda de Natal de uns mil euros, isto se não houver lesões internas, o que está por apurar. Ao filho da puta que me arranjou este camadão de despesa e trabalho: ide-vos foder.

Entretanto e ainda com refinadas trombas acabo de receber esta fotografia no telemóvel. É o nosso objectivo para amanhã.


Serra de Montejunto, situada entre os concelhos de Cadaval e Alenquer, pertencente à cordilheira do sistema Montejunto-Estrela. A beleza da foto é uma ilusão, não revela a brutalidade do que nos espera, on National Geographic já ouvi dizer que há muitas mulheres assim e é reconfortante saber isso porque pensava eu que só me acontecia a mim. O ponto mais alto está a 666 metros de altitude e o percurso prevê um desnível acumulado ascendente de 1177 metros. Não conheço o piso mas penso que se dividirá entre trilho e estradão. Considerando o carácter competitivo da nossa Cycling Team, desconfio que só não vai valer arrancar olhos.

Agora vou ali reflectir sobre coisas que me ensinaram em pequeno ser mais importantes, que depois tenho que ir receber uma lição sobre como comprar um par de calças. Devia ainda tentar terminar umas leituras de literatura que começam a acumular-se. Acho que antes de reflectir sobre aquilo vou reflectir sobre isto. Ah, e ainda tenho que tirar trinta segundos para renovar a minha incredulidade perante as decisões dos senhores do BCE, que teimam em manter o mandato único relativo à estabilidade de preços. Só vão imprimir guito quando entrarmos numa espiral deflacionista, não é seus cabrões? Precisam de desculpazinhas para não darem o bracinho a torcer, não é? Não vos chega esta merda toda. Grandessíssimos.
Como já percebeu o auditório, estou um bocado. Assim, com a vossa licença vou ali.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desnexos essenciais


Um epitáfio quase tão perfeito como aquele que hei-de criar para a minha pessoa é o que O’Neill fez para ele próprio: “Aqui jaz Alexandre O’Neill. Um homem que dormiu muito pouco. Bem merecia isto”.

(uma alma iluminada queira ter a gentileza de me explicar como é que estou a escrever sobre epitáfios, com os quadrícipes a latejar porque o ácido láctico é uma coisa fodida, de phones nos ouvidos com volume máximo, sublinho máximo, a ouvir o Domino da Jessie J em loop, e tudo à uma e trinta da madrugada. Amanhã vou marcar um check-up, prometo-me).



Chego há minutos a casa. Treino nocturno curto, 40km, pouco desnível acumulado, manutenção de ritmo mínimo de modo a não ser muito enxovalhado no fim-de-semana (pois, tá bem), inclusão de subida em esforço às antenas de Monsanto. 11 graus célsius perto do rio Tejo. Não me recordo, mesmo é dizer que não aconteceu, de ver tanta gente a biciclar perto da meia-noite na marginal na zona de Belém/Cais-do-Sodré. Notável.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Entre as Linhas

Estava aqui no meio de actividades e resolve visitar-me a minha Musa inspiradora de noites de insónia que vocês já tiveram o estrondoso prazer de conhecer em posts anteriores. Estão com inveja, não é? Pois temos pena. Mas eu sou um rapaz bonzinho quando me deixam, portanto vá lá, apreciem o tema de hoje: Between the Lines. Bom, hã?



terça-feira, 22 de novembro de 2011

Coragem


O P. vai em Março para o Brasil durante mês e meio. Novamente. Vai em lazer, em prospecção, enamorado, trabalhando à distância, vivendo um dia de cada vez, mas com um olho posto no sonho. É um tipo esclarecido lá no mundinho dele, dá asas aos desejos e fá-los voar sempre que tem oportunidade. Mas cria a oportunidade e isso é de valor. Gosto dele porque tem particularidades que chocam muitas das nossas pessoas, mas é um tipo genuíno e honesto e tem um coração bom. A mim já não me engana. A mim conquistou-me, ao fim de tanto tempo. Há surpresas assim, que são boas mesmo quando chegam tarde, mesmo quando nos estupidificam de tão cegos que fomos por não vermos o que sempre esteve lá. É a prova de que devo seguir os meus instintos. Mais uma prova de que estou certo tantas e tantas vezes e em algumas delas me falta a coragem de ser coerente. Não temos tempo para não sermos corajosos, P. E tanto que aprecio a coerência! 
Aguardo ansiosamente notícias de Ubatuba. Cumé, temos pousada ou não temos pousada? Sou gajo pra me meter no avião e ir lá ter, apaixonar-me pela terra e depois sei lá, ou então não vou e fico-me. Em São Tomé nunca em tempo algum imaginei que estivesse tão perto de me reencontrar, uma região daquelas, como é possível? Ele sabe, não sabes? É qu’isto aqui não há meio de me surpreender. Para ti toma lá um Gilberto Gil ao vivo, no seu melhor. Que maravilha, hã.




Olha, vê lá esta pérola a seguir. Em plena assembleia das Nações Unidas. What da fuck!




Passar a acreditar em coisas


Dei um pulo ali à Gulbenkian (eu vou à Gulbenkian. Sou um gajo culto e essas merdas, ah e tomo banho todos os dias: meninas, hum?). Para além do mais aquela inspiração frank-lloydiana é inebriante, acho sempre que um dia me vou construir uma casa assim. Mas o negócio era visitar a exposição “A perspectiva das coisas - 2ª parte”. Sou um vendido, não resisto à sensação de proximidade. Isto não se consegue via net ou livros, pá.

Os girassóis do Monet, nunca tinha visto ao vivo. Pertence ao acervo do MET e eu e a América, é isso. Um ou dois van Gogh, não me canso de me espantar com aquelas cores. Lá pelo meio (perdido), um telefone do Dali, mesmo um telefone a sério, tridimensional, aquele ganda maluco meteu uma lagosta em mármore no lugar do auscultador e chamou àquilo ‘telefone afrodisíaco’. Olha, um Vieira da Silva. Vir a uma exposição tem também este carácter comprovativo: continuo sem conseguir gostar de Vieira da Silva. Daqui por uns meses faço nova análise, para confirmar se já estou curado. Mais umas coisas interessantes essencialmente do séc. XIX e uma ou outra do século seguinte. Impressionismo mais ou menos, natureza-morta com fartura, pena que nada do séc. XVIII e acabei por não ficar tão contente quanto esperava. Cá fora dei por mim a pensar que a televisão e a internet provocam uma certa sofreguidão. Somos tão bombardeados com informação que assistir a espectacularidades ao vivo quase se transformou num exercício decepcionante: ah e tal, esperava mais. Esperava mais?! Estou a ver uma cena que desperta emoções, não só em mim mas em milhões de pessoas no mundo inteiro e “esperava mais”? Condenso duzentos e tal anos de pintura em sessenta minutos e “soube a pouco”? E viver na Sibéria ou no deserto do Sinai, não me diz nada? Nota mental: deixar de ser parvo.

Ora, antes de entrar na exposição dou um salto ao museu para uma ronda rápida pela exposição permanente. Descansadinho da vida, faz-de-conta, quase no final reparo nisto:



Não! Deixa-me cá aproximar o telemóvel para focar a personagem central…



O que é que estava o Ricardo Araújo Pereira a fazer naqueles propósitos há quase 200 anos? Fooodassse! Passei o resto da visita a olhar por cima do ombro, agora acredito em coisas.



domingo, 20 de novembro de 2011

Vida em bom, ver.2.0


Domingo, 8:30h da manhã. Depois de um jantar que foi um roubo, de não me ter metido nos copos, de ter dormido exactamente cinco horas e de não me conseguir lembrar do que sonhei, o que me desespera sempre um bocadinho, estou no carro a caminho do ponto de encontro para mais um raid no coração da serra de Sintra. O nevoeiro é considerável e os sites de meteorologia não são unânimes alternando entre chuva e tempo seco, afinal de contas Novembro já quase foi. Estão dez graus célsius. Hoje não me apetecia tempo agreste, penso. Vai ser durinho. Chego e sou surpreendido. Aldeia de Juzo, no sopé da serra, recebe-nos de braços abertos e com um sorriso, desejosa que chegássemos. Céu quase limpo, visibilidade perfeita, a temperatura promete aumentar quatro ou cinco graus – está no ponto - durante as próximas três horas de tortura boa.

Um dos amigos da nossa Cycling Team (Lamy, gostaste?) aparece com a máquina nova, a estrear. Specialized Stumpjumper 29er hardtail, em carboooono, modelo 2012. São 2400 eurinhos. Dou umas voltas curtas, só em asfalto. Queria sentir-lhe o peso. Ficam voltas maiores para a próxima porque estamos ligeiramente atrasados em relação ao horário planeado. A bike é bonita que se farta e parece manteiga. Gosto muito. Tem um sistema de transmissão que desconhecia, com uma pedaleira de duas coroas em vez das tradicionais três e uma cassete com dez rodas dentadas. Ao que sou informado permite as 20 velocidades, visto que a corrente nunca cruza em nenhuma combinação. Terei que estudar o assunto. Mas sou um tipo fiel, sofro de amor incondicional pela lefty da Cannondale. 5000 euros. Não posso comprar agora e provavelmente nem tão cedo. Dou por mim a lamentar-me das voltas que a vida dá ou, noutra versão, porque é que sou um urso. Se fosse há cinco ou seis anos! Bom, bora lá desbravar a serra.

Subida lá acima a mais de 500 metros de altitude, ataque à fortaleza da Peninha e depois é atirar-nos de cabeça à descida mais dura do percurso em direcção ao mar, três horas depois e com um rabo cada vez mais calejado. Cá em baixo a recompensa é esta a seguir. Sintra nunca desilude e há carradas de surfistas em Carcavelos às 13:00h deste dia soberbo. Haja saudinha.




sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Formas de coisas

-- Se tivesses que ilustrar a nostalgia, que forma lhe davas?
-- Epá, um camadão de formas, nem calculas. Podia ser um ZX Spectrum, um episódio da Galáctica, as pernas daquela miúda por quem andei anos apaixonado e que nunca soube o meu nome, tanta coisa. Se me perguntares “e agora a nostalgia, mas em níveis já tóxicos?”, então tenho que te dizer que é isto:





quarta-feira, 16 de novembro de 2011

-- Tá lá? Onde é que estão?
-- Roulotte amarela, a Coroa. É a que tem as melhores bifanas e a gaja mais gira a servir, despachem-se senão comem é merda.
Chego com o C., já lá estão os outros. Abraços, disparates, é preciso trincar alguma coisa.
Chomp, chomp, pronto, já tenho um bife ali entre o canino e o outro de que não sei o nome, palitos, não há palitos neste estabelecimento? O M. dobra o bilhete em forma de vértice e prepara-se para exemplificar na minha boca como é que a coisa se faz. Mando-o pastar e ameaço uma joelhada nos tomates. O gajo recua. Ainda tenho fome e enfardo à pressa porque cheguei tarde. O jogo pode ir a prolongamento, a noite arrisca maratona, não jantei e preciso de armazenar hidratos de carbono. Aguentem-se!
Não resistem e também se chegam para comprar batatas fritas e meter conversa com a miúda. Ela devolve um sorriso rasgado. Vitória. Era bonita, o raio da moça.

Escada acima que nunca mais acaba, entramos. Lá em baixo parece um tapete verde, já estou emocionado. Mais escadaria e começo a ver a vida andar demasiado pra cima. Não gosto e reclamo dos lugares que o M. arranjou: sou prontamente mandado pró caralho. Entretanto, constato que a assistência é mais feminina do que masculina. Masquéisto?

-- Prrrr! – começou.

É livre. Cristaaaano, goooolo! Um rocket. Batem com os pés. Isto vem abaixo vem.
-- Atão a onda, qué da onda?
Primeiro ataque deles, bola no poste. Típico, é uma cena portuguesa, é só para dar confiança ao adversário e a seguir cair-lhe em cima quando menos espera. O adversário não percebe, isto é táctica; aliás, ninguém percebe. Siga.
-- Joga, joga! — ai a Bósnia.
Rodriguinhos, brinca na areia. Está tudo lixado não tarda, abram a pestana. Mais rodriguinhos… Ai, penalti. Escândalo. Golo da Bósnia.
-- Oooooohhhh Portugal allez, Portugal allezzzzz! – canta-se em francês e português ao mesmo tempo, parece que estamos a jogar no Stade de France carregado de imigrantes nas bancadas. É estranho.

-- Prrrr! – intervalo.

Ouvem-se os Heróis do Mar nas colunas do estádio. É bonito e traz-me uma pontada de nostalgia na forma de arrepio. E que saudades de haver outra vez heróis. Ontem enviei um email em que me apetecia dizer que já não há heróis e que isso
-- Embora mijar?
-- Bora lá.
-- Xiiii, ganda bicha! Vou ali comprar queijadas -- o que eu gosto de queijadas! Que raparigas tão giras, penso. Mais raparigas giras por m2 do que em qualquer outro sítio, é sempre assim nestes jogos da selecção.
 Chom, chomp, chomp. Mais um pacote.
- Grande besta, como é que não ficas uma baleia?
- Epá, gosto disto, qual é o drama? Só como queijadas quando o Rei faz anos.

-- Prrrr! – Recomeçou.

Atacamos para este lado, fixe. Dou por mim a pensar o que eu não dava pra ver um Nova Zelândia / África do Sul neste estádio. Portugal domina. A Bósnia já entregou, faltam 30 minutos. Sai Raul Meireles, entra Ruben Micael (what da fuck?!). Golo da Bósnia. Displicência ao mais alto nível. Calma, é gerir, é gerir. Assim já é mais à Portugal. Portugal não joga nada.
-- Foooodasse centro de merda não sabe centrar caralho – ouve-se uns lugares mais à direita. É jargão.
Golo de Portugal. Portugal joga pa xuxu.
-- Por-tu-gal, Por-tu-gal! – agora ouve-se como ainda não se tinha ouvido. É ensurdecedor, enxurrada de adrenalina, os pelos eriçam-se. Vir à bola é isto, é isto. É a gratidão, é o orgulho. -- Só mais um, só mais um! – golo! Ai mãe, qu’isto vem abaixo. Está tudo doido, parece a Tomatina de Valencia mas sem os tomates. Substituição, entra Carlos Martins. Quem sai? Não interessa. Ok, pára tudo! O que é que se passa aqui? Espontaneamente, desata tudo a cantar o hino ao minuto 86. Esta nunca vi. Vir à bola é também descobrir coisas novas. Levanto-me e canto também.

-- Prrrrr!

O que aconteceu, no fundo, foi isto:
  1. Com 26 anos, Cristiano Ronaldo é o 3º melhor goleador de sempre da selecção nacional.
  2. Descendo a escadaria olho para as pessoas, há sorrisos mas os olhos não transmitem alegria. Sinto-me incomodado, desvio o olhar num acto cobarde.
  3. Creio que estou mal disposto, será das 16 queijadas?
  4. Portugal cilindrou a Bósnia, está no Europeu e a selecção já é outra vez incrivelmente espectacular.
  5. Cava-se-me um buraco na alma de tanta falta que me fazem heróis.







Incompreensível

Desafio alguém a encontrar-me uma empresa cuja cotação bolsista tenha um gráfico assim, particularmente no período de 2000 para cá e com um passado deste calibre anterior a 2000. Ah, e estamos a falar de uma blue chip.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Momento de baile


Katy Perry rapariga, sabes que gosto muito de ti, canto as tuas musiquinhas no carro e tudo, és um animal de palco e aquela actuação nos youtube awards em dois mil e tal ainda a guardo no meu coração, mas sabes também que tecnicamente não cantas um cu. Já esta miúda que te vou apresentar, a Jessie J, embora não seja o animal que tu és, canta pa xuxu. Ora observai.

You people know the drill: phones, volume up and… DANCE.






E se dúvidas tiveres, toma lá esta versão também live mais pró acústico, só por causa das tosses.





domingo, 13 de novembro de 2011

Palavra


Ontem regressou ao teatro São Luiz o espectáculo Clube da Palavra. Sala Jardim de Inverno, 23:30h. Fomos lá ver.

“Cantada e dita, gritada e sussurada, desenhada e musicada, lida e improvisada, a palavra é o pretexto para reunir alguns dos melhores palavristas durante 60 minutos de espectáculo”. Foi mais para 90 minutos, por sinal. Os artistas da noite eram António Zambujo, Miguel Horta, Raquel Lima, Penicos de Prata e António Jorge Gonçalves. Este espectáculo é uma espécie de mostra do que acontece no programa com o mesmo nome que passa no canal de televisão ‘Q’ e é uma sessão única, ou seja, agora só quando lhes apetecer voltar.

Os Penicos de Prata estiveram bem, a cantar António Botto esse malcriadão, numa onda clássica cujo contraste espanta sempre ao início. Do Miguel Horta não gostei muito. Não me parece que seja um contador de histórias daqueles natos, senti que se esforçou muito. Ou então as histórias foram mal escolhidas. Das coisas que mais prazer me dá na vida é ouvir contar histórias, quando era puto era à minha avó que lhe pedia que repetisse as mesmas histórias até à exaustão e por conseguinte rendo-me com facilidade a um bom contador de histórias. O reverso disto é que sou exigente. O António Zambujo cumpriu o que já se esperava e cantou o Zorro, canção que sempre me emociona porque aquela coisa de "foi ela que pediu" mostra a um gajo que grandes feitos são possíveis, e ainda cantou mais umas quantas. Os desenhos do António Rodrigues nasciam em tempo real e eram projectados numa tela enquanto o artista fazia o seu número. Estava fixe e dinamizava o quadro. Mas meus amigos, a razão de me apetecer escrever o post chama-se Raquel Lima. Esta moça vai dar que falar, considerem-me. Poetisa, esteve em palco a dizer (representar) obras dela. Poesia muito realista e actual, extremamente inteligente, brinca com as palavras e consegue ironias desarmantes. Uma tremenda contadora de histórias, digo. Impressionou-me a humildade dela em palco.

Deixo uma foto com a já famosa fraca qualidade visual que me assiste em fotografia, tirada no final com todos em palco. O Zambujo está ao centro com a guitarra e à sua direita (como quem olha prá foto) está a Raquel.



Perdoai-me senhores, nunca mais arranjo uma câmara fotográfica compacta ó caneco. Senti uma vontade súbita de vir aqui dizer que a sala principal do São Luiz é muita bonita, saco do telemóvel e sai isto. Era desnecessário, não era? Vista do palco ele mesmo. Desculpai.



De seguida rumo à Bica e ao Cais do Sodré para copos, as minhas companhias femininas (plural) eram incrivelmente espectaculares (roam-se) e armei-me em esperto com duas delas que não conhecia, dizendo que era filósofo e que tinha uma filha chamada Nastenka e etc. A amiga comum apoiou-me e a coisa ia, mas às tantas fala-se em assuntos mais materiais, pela boca morre o peixe e foi-se o embuste. O que vale é que as raparigas eram do melhorzinho com que tenho saído, não desfazendo.



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Psicologias


Perguntava-me o meu amigo L. porque é que as quedas nas cotações de acções ou mais flagrantemente nos índices bolsistas são repentinas e intensas e as subidas mais lentas e suaves. Para quem se interessa pela área é um tema apaixonante, de maneira que vou fazer um esforço para clarificar a dúvida dele com a frieza possível.

Embora os mercados bolsistas sejam exemplarmente eficientes a longo prazo e seja raro o investidor conseguir batê-los nesses períodos de tempo, toda a movimentação de curto prazo – é o mesmo que dizer, especulativa - está dominada por duas emoções, o medo e a ganância.

Acontece que o medo é uma emoção mais poderosa do que a ganância. Em face de uma situação que configure perigo, o instinto natural de autodefesa destrona o desejo de preservar o capital.
Como ilustração, costuma invocar-se a parábola financeira das moedas de ouro e dos gorilas perigosos, que reza mais ou menos assim: se estivermos andar na rua e alguém atirar centenas de moedas de ouro ao ar, após uns  momentos de ponderação o instinto natural leva-nos a tentar apanhar tantas moedas quantas conseguirmos. Ganância. Mas se as mesmas moedas forem atiradas para o ar e aterrarem junto de um gorila de 500 quilos empunhando uma motoserra, o nosso instinto natural é correr dali para fora o mais rápido possível. Medo. E não precisamos de pensar no medo, é um instinto natural, uma resposta impulsiva, e o resultado é dramático. A ganância acumula com o tempo, ao passo que o medo aumenta a um ritmo estonteante, num abrir e fechar de olhos.

É de referir investigadores terem descoberto que os humanos obtêm o mesmo nível de satisfação emocional por ganharem, salvo erro, 2,5 unidades monetárias, quanto o nível de descontentamento que obtêm por perderem 1 unidade monetária. O nosso cérebro de homem das cavernas está formatado de modo a que ganhar 25000 euros faz-nos sentir tão bem quando perder 10000 euros nos faz sentir mal. Basicamente, o medo é 2,5 vezes mais forte do que a ganância.

Na presença de situações reconhecidas como perigosas, o medo origina um processo de fuga (venda) que se auto alimenta e alastra levando a que mais gente entre na “carruagem”. A consequência é directa: movimentações de preço muito abruptas (volatilidade) e, eventualmente, pânico. É curioso observar que só depois de se abandonarem as posições é feita a respectiva análise e é avaliada a situação, de fora.

Não deixa de ser curioso constatar, numa perspectiva diferente e à qual estes princípios não se aplicam, como evolui qualquer índice bolsista ao longo de um período de tempo muito longo, tipicamente superior a qualquer ciclo económico mundial. Efectivamente, se observarmos um gráfico em que o eixo das abcissas diz respeito ao tempo e se escolhermos uma definição baixa (intervalos longos), as quedas repentinas significantes de períodos de medo intenso são pouco ou nada detectáveis. Ao invés, destaca-se a tendência de crescimento da função - a abordar em post futuro, se tiver paciência.

Atribuo a esta dualidade entre o medo e a ganância o facto de o jogo mais fantástico que o Homem já inventou e que só tem duas jogadas, comprar ou vender, ser de uma complexidade ímpar, pelo menos desconheço qualquer paralelo e atenção porque já estive numa mina a 700 m de profundidade e sei que o Homem já foi à Lua e também projectou e construiu centrais nucleares. Pois, mas nada se compara.

Após todos estes anos continua a impressionar-me pensar que, por mais teorias que se criem, por mais sistemas que se inventem, por mais capacidade computacional que se atire ao mercado, os movimentos de curto prazo foram e sempre serão dominados pelo equilíbrio de forças entre o medo e a ganância. Enquanto humanos estiverem envolvidos em qualquer acção de trading, será à psicologia que caberá a árdua tarefa de tentar explicar a razão de ser das coisas e a missão impossível de as tentar prever.

Dito isto… estamos a viver tempos notáveis (L., esta é para ti), está a fazer-se história a sério e por conseguinte é bem possível que tudo o que escrevi acima também venha a ser posto em causa pelas novas realidades que se avizinham. Espero viver para assistir.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O direito ao contraditório

O que ela disse na caixa de comentários do post "O Advogado" é uma mentira redonda, isto é, não tem ponta por onde se pegue. Nunca lhe disse que contasse com Cardhu. Prometi uma Guinness de pressão, coisa que não se promete por dá cá aquela palha. De resto, parece-me desinteressante evidenciar o macramé quando, embora saiam das minhas mãos elegantes tapeçarias, sou muito mais competitivo a pregar pregos. Detecto alguma deslealdade naquela lista de comentários.

P.S. 1) Já te disse variadas vezes que não metas gelo no whisky que o estragas, mas tu és teimosa. Já viste alguém meter açucar na bica?
P.S. 2) Vir para a praça pública chibar dessa maneira é feio e expõe o indivíduo.



Memórias

Ah! Então o tutubo tem coisas destas? Nunca pensei, mas também nunca pensei ver alguém com tomates de chumbo . Bom, então informo que a blogosfera em geral e as incontáveis cabeças que constituem o meu auditório, em particular, passarão a levar comigo mais amiúde.

E pronto, mais um compacto-disco cujo paradeiro não me recordo. Isto começa a dar-me cabo do miolo.

As apresentações: não há muito a dizer, o tema é Take Five, live, com o Dave Brubeck (meu top 5), o compositor Paul Desmond (inseparáveis) e... epá, oiçam, oiçam. Tenham lá a gentileza. E depois de dizerem que gostaram vou à procura de mais. Os apreciadores, se me quiserem enviar links para pérolas destas, fico desde já a sofrer de agradecite aguda.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O advogado

De manhã, novamente em défice de horas de sono porque sim, porque tenho que mudar de vida e já não tenho paciência pra mim e não-sei-quê, acordo e já estou no chão para a habitual bateria de abdominais. Ora, em vez de começar a dar-lhe vem-me isto: “tenho mesmo a mania de justificar os actos das pessoas”. Pronto, já vou começar a reflectir, e agora e agora, eu quero é fazer abdominais, que merda pá. E fico a pensar que consumo imensidões de tempo nesta gaita desta mania. Que não descanso enquanto ora construo ora desconstruo mentalmente as atitudes das pessoas e cá no meu mundinho acho quase sempre que consigo explicar porque é que isto ou aquilo aconteceu assim ou assado. Quanto melhor conheço a pessoa pior é porque há mais matéria para relacionar, atribuir razão, processar. Nesse processo específico não me interessa o valor porque não julgo as acções, o que me preocupa é a lógica subjacente. Sou daqueles chatos que entendem que tudo tem uma razão de ser e que até os gostos não só se discutem como se explicam. Nunca percebi se isto me acontece por uma questão de natureza, por educação, ou por influência profissional. De quando em vez sou confrontado pelas minhas pessoas que se admiram de eu gastar tempo nisto, como se de um disparate se tratasse. Ficam enfadadas e não me passam cartão. Não sabem que mais me admiro eu de elas não se incomodarem em saber o porquê, não das coisas, mas das pessoas. Desconfio que daria um excelente advogado. De defesa. Ou do diabo.

E agora tenho que ir ali dormir menos de cinco horas, não sem antes vos deixar com a melhor parte: o que é que eu queria dizer com este texto? Nada, não queria dizer rigorosamente coisa nenhuma, foram minutos de absoluta inconsequência. Tenham todos um resto de noite. Sinto-me mais ou menos e isso é indiferente e eu detesto a indiferença, pelo que me sinto, afinal de contas, mal. Começo a frase a sentir-me mais ou menos e três palavras depois já concluo que na verdade me estou a sentir mal. Percebem, isto mói.  



terça-feira, 8 de novembro de 2011



James Tissot - Holyday (sic), 1876


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

É dor, isto que sinto

 
Na linha dos últimos posts sobre o juro pago pela dívida pública italiana, tenho a dizer o seguinte: está meeeeesmo quase. E, como diria Nouriel Roubini, "não vos vou dizer que eu bem vos disse, mas disse". 

Hoje estou melancólico com influências revoltosas. Tudo isto é tão incompreensível, que me dói. Com sinceridade. Sinto-me como um espectador sentado na plateia de um teatro. Numa peça a trama repete-se todas as noites em que o espectáculo vai à cena. É assim que deve ser. Deve ser dada a oportunidade a todos quantos quiserem assistir, de irem ver a peça. Mas ESTA não é uma peça que valha a pena assistir consecutivamente. Seria desejável que demonstrássemos visão, senhores! E, deste lugar onde me sento, este espectáculo a que estou a assistir repete-se, bailout após bailout após bailout após o raio que vos parta a todos. Não podia ser assim! A história repete-se sem que se vislumbrem sinais de aprendizagem por parte de quem manda nestas coisas. A história serve para compreender o futuro, embora se costume dizer que em economia o passado não interessa, o presente não existe e o futuro é hoje. Considero essa uma perspectiva redutora e, no máximo, é um caso notável. E não há um filha da puta de alguém dos que mandam nas cenas que perceba que há padrões, que há coisas que, ao acontecerem sistematicamente da mesma forma, garantem com uma probabilidade razoavelmente elevada a sua repetição futura! Ou se calhar até há quem perceba isto, mas talvez seja este o jogo político e financeiro de que é feita esta vidinha do primeiro mundo. 
Ainda assim, dói-me. O conceito de dor como aqui falo é relativo, já se vê. No contexto em que me insiro, dói-me. Se estivesse em São Tomé estava-me pouco cagando para a dívida pública, mas não estou. O que me incomoda mesmo para lá de demasiado é que os senhores que mandam não sentem dor e não estão em São Tomé. Isto, eu não compreendo. E esforço-me tanto!


sábado, 5 de novembro de 2011

... e cá está

E pronto, o tema Les Fleurs, versão dos 4hero com Carina Andersson. It can't get much better than this, eh?





Flutuando


Tenho um compacto disco dos 4hero que não encontro (e que por acaso até me parece que não é meu, acho que é do P., que mo emprestou, pronto, eu é que o subtraí com informação prévia da acção, há uma data de anos atrás). Mas como é que isto é possível?!... Bom, é preciso calma. Enquanto não me decido sobre que atitudes drásticas tomar, aqui vos deixo, faustoso auditório, o tema Morning Child com a fabulosa soprano Carina Andersson. Se o clima não me atirar para fora de casa, ainda sou capaz de ir à procura do tema “Les Fleurs”, origjnal de uma moça americana que já deve ter morrido por esta altura e se não paciência, também com a Carina. 





 
P.S. entretanto lembrei-me que já tinha devolvido o compacto. Eu, que tenho uma memória do tamanho da dívida pública, com estas e com outras parecidas vou acabar por achar que estou a ficar xoné.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

As bases, as bases!


Em jeito de comentário ao post do JAA aqui, dizia eu: o que me parece absolutamente lógico é que a Alemanha não queira abandonar o projecto europeu. O interesse maior é, muito evidentemente ou nem tanto assim, dos mais fortes. A questão é que o projecto europeu - este projecto europeu - tem funcionado do ponto de vista comercial, mas não funciona do ponto de vista político nem, sobretudo, cultural. Ora, quando os naturais problemas financeiros, que são parte integrante de qualquer crescimento económico, surgem, é ao sistema político que cabe resolver, e à cultura que cabe absorver. Se a cultura não preparou a política, dá-se o que está a suceder, que é o cair do pano sobre anos e anos de um castelo de cartas disfarçado de projecto europeu. Este projecto europeu, construído sobre uma manta de retalhos cultural e política que constitui a nossa Europa. Este projecto europeu, que não soube criar um sistema financeiro que admitisse, que colmatasse, que atenuasse as brutais assimetrias culturais e políticas - e, por conseguinte, económicas - entre os seus Estados.


Do leite


Considerando a mui dificilmente mensurável quantidade de leitores que este blog já possui, facilmente se infere ou até deduz que há uma probabilidade multidigital de entre eles se encontrarem os senhores que mandam lá na cena do leite Matinal e do leite Continente. Assim,

Senhores do Continente, apresento-vos A embalagem. 
Nem tirei uma foto do vosso pacote, para não me agoniar. Mas aquilo é o quê, digam-me lá, é o quê? Já não se usa, aquela abertura nojenta. E o leite sai aos bochechos e na maior parte das vezes caga-me a bancada, isto quando aquela película de alumínio não fica rasgada antes de abrir e depois, depois só com uma faca, sendo que o respectivo buraco fica todo esfodaçado e os bochechos parece que ganham vida própria além de uma característica que muito me arrelia principalmente quando se trata da direcção que os fluidos tomam, que é a imprevisibilidade. Tenham lá juízo, vá lá.





 Senhores da Matinal, apresento-vos O preço.




Agora fazem assim: deixam uma embalagem Matinal e um preço Continente, os dois juntos num quarto escuro durante uma semanita, a ver o que acontece. Aposto que 9 meses depois nasce uma Matinal a 0,52€. Isto é que é a selecção natural de que o outro antigo falava, está bem? E se no final das contas parirem um Continente ao preço Matinal, então comprova-se a teoria de que anda por aí manipulação genética dos alimentos.

Se todo este tecnicismo não resultar, epá arranjem vacas mais baratas, não sei, desengomem-se. Ah e tal, mas o Matinal é seleccionado e o Continente a esse preço não é. Ah meus amigos, queriam que fosse tudo fácil? Se fosse fácil até eu fazia leite. Toca a resolver!

E só por causa das merdas vou ali beber um copo de leite frio.



Mau!

Então não é que o cabrão do blogger me escondeu os vinte posts mais antigos dentro dos arquivos?! Mas porquê senhores, porquê?? Alguém me ajuda?

Daydreaming

A minha musa inspiradora em noites de insónia. Ah garota, trazia-te para Lisboa e fazia de ti uma senhora! Olha lá, espero que esse rasgão aí na perna direita seja propositado...

Sempre que colocar vídeos desta senhora, informo que os comentários estão fechados a leitores rebarbados. Para outros espécimes do género feminino, podem. Obrigado pela compreensão, prometemos ser breves.





E agora, F.?

Antes estava com sono, mas fiz o título no final

Se a despesa pública é a resolução dos problemas económicos de um país e a receita para o enriquecimento das populações, então porque carga de água as economias, sei lá, da Grécia e de Portugal, que tiveram despesa pública em abundância, não registaram crescimentos económicos significativos? E porque diabo, se a despesa pública garante tanto sucesso, os investidores do mundo inteiro não continuaram dispostos a emprestar dinheiro a estas economias a taxas suportáveis? Não gostam de fazer bons investimentos?

 Acima está o post de título "Agradece-se explicação" que a Maria João Marques colocou com valoroso sentido de oportunidade no seu blog, e eu vou aproveitar que estou relativamente sonolento para engendrar uma resposta técnico-táctica que, admito, até a mim próprio me deixa confuso porque já cheguei a um ponto da vida em que nem eu sei o que é a verdade e o que é a aldrabice. Espero que a Maria João Marques me desculpe. Bom, siga.

Começo por aqui: a despesa pública promove o crescimento sim, mas ponto-e-vírgula. É preciso cabecinha, não é gastar à grande-e-à-irlandesa / islandesa / grega / portuguesa / francesa-não-tarda-nada / italiana-está-mesmo-quase.

Se o Governo de um Estado gasta todos os anos sistematicamente mais do que arrecada, então falta-lhe dinheiro, ou seja, há défice orçamental em cada um desses anos, certo? Até aqui tudo bem, diz-se desde a década de ’30 que é assim que se cresce, mas atenção que eu já não sei nada, se é que alguma vez soube. A verdade é que o crescimento dá-se; no sentido em que há mais obra feita, em que o povão tem mais bens materiais, a esperança média de vida aumenta, há mais jovens a estudar, bla bla bla (não falo de crescimento ou de qualidade de vida como eu os entendo, isso é outra discussão e isto aqui é só um post). Poderás argumentar, Maria João Marques, que a Suíça ou o Japão têm excedente orçamental e também crescem e tal. Epá, os EUA também já o tiveram meia dúzia de vezes e agora já não querem nada com isso, e os suíços e os japoneses são uma gente diferente, têm lá as coisas deles, são muito controladinhos e assim. Por acaso aquilo no Japão é uma miséria porque não crescem e mesmo assim têm inflação. Lá está, são coisas deles, é deixá-los estar. E há também umas teorias que explicam porque é que défice pode ser melhor do que superhavit, mas eu não percebo nada disso.
Ora, mas continuando, se durante esse processo de (pseudo) crescimento o Estado fica em défice orçamental, é preciso arranjar dinheiro para pagar a quem o Estado ficou a dever, ou seja, aos agentes económicos que realizaram as obras, que forneceram os equipamentos, e não-sei-quê. Lógico. E como é que o Estado resolve o problema? Bom, é fácil: pede um empréstimo aos mercados, leiloando obrigações, ou seja, dívida soberana. Até aqui tudo bem também.

Então, se o investimento público promove crescimento, ainda que à custa de défice orçamental, porque é que o investidor comprador de obrigações não é mais comedido no juro que reclama?

Bom, a tragicomédia surge quando os défices anuais têm valores relativos tão disparatados, que a sua acumulação se transforma numa dívida gigante cujos juros dos empréstimos o Estado começa a não conseguir pagar, e muito menos os empréstimos propriamente ditos. Porque é que esta acumulação desgovernada de dívida acontece? Porque o Estado, as pessoas, nós todos, somos maus gestores, isto é, sabemos que não podemos dever mais do que X porcento do PIB para que a procissão continue feliz e contente e, pasme-se, resolvemos passar a dever para cima de um disparate só para chatear. Resumindo, trata-se de um problema de gestão e de produtividade. O povo produz mal e o Estado gere mal.

Portanto, quando o investidor que empresta o seu dinheirinho começa a ver a vida mal parada porque observa um Estado que até está a crescer, mas com uma dívida demasiado grande para ser verdade e, diria mesmo, a sentir que é mama a mais para tão pouco soutien, diz assim: espera lá, vocês têm mais olhos do que barriga, vocês não são os amaricanos, deixa-me cá segurar-me um pouco mais, agora quero um prémio maior para vos emprestar dinheiro (o tal ‘juro’), caso contrário vou mas é comprar acções da Apple que me dão mais rendimento com menos risco. Tu fazias o mesmo se um suposto e até aqui financeiramente irrepreensível amigo, a quem já emprestaste dinheiro várias vezes, de repente chegasse ao pé de ti e te dissesse “empresta-me lá aí dez mil euros, que eu meti-me no jogo e agora preciso de fazer um double-down para não me afundar”. Não digo que não emprestasses, mas seguravas-te, porque as premissas tinham mudado. É então que o preço da obrigação começa a cair vertiginosamente (ninguém a quer), ou seja, o prémio (juro) oferecido para que alguém a compre começa a subir em flecha (imagina que é uma rapariga muito feia, mas mesmo um ogre, e que os pais têm que aumentar o dote para alguém a levar, estás a ver?), e daí à calamidade são meses. Bom, quando os espertos dos políticos que governam povos já de si xonés entram na equação, então são anos, porque é tudo gente ruim, que adora prolongar o sofrimento. É uma espécie de sado-maso, mas em pior.

No fundo, voltando um pouco atrás, estamos a falar de crescimento duvidoso, não sustentado. E a comunidade internacional que investe sente isso e assusta-se. Não há volta a dar, quando há dinheiro envolvido é missão impossível manter um embuste durante muito tempo, porque o ser humano é muito agarrado ao vil metal e tem um medo de morte de o perder, de maneira que está extraordinariamente atento a qualquer potencial ameaça - veja-se o exemplo das alavancagens com o sub-prime, bastou uma paragemzinha na subida dos preços do imobiliário para vir tudo por ali abaixo.

A solução para quando se chega a uma situação destas é uma de duas: ou o Estado manda tudo à fava e desata a imprimir dinheiro a torto e a direito como fazem lá na FED os amaricanos, para comprar/pagar a própria dívida, aumentar a confiança dos agentes e, portanto, baixar o juro para valores aceitáveis para mais tarde poder voltar aos mercados de cabeça erguida como a selecção, mas aí… arrebimba o malho!... quem é consegue controlar a inflação? Isto não é a América, além de que a Europa resolveu que só o ECB é que pode imprimir dinheiro, é tudo à ganância pois; ou então o Estado pede dinheiro ao ECB ou ao EFSF ou ao diabo-que-os-carregue, a um juro mais baixinho, e sujeita-se a ser obrigado a adoptar políticas recessivas, orçamentos restritivos, etc., que não vão pagar coisa nenhuma e está tudo lixado como agora.

Agora não consigo ir dormir, estou agitado.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Xutos

Os roqueiros brasileiros da banda Titãs com um cover do tema Circo de Feras, dos Xutos. É aquela pontinha de orgulho que até me esquecia que ainda consigo ter cá dentro, pronto.


ECB Cuts Rates to 1.25% in Surprise Move... e aos senhores que mandam

Fodassssse! Estava a ver que não! Não é pelo corte em si, que não vai ter muito sucesso numa Europa manifestamente em frangalhos, à beira da claudicação do seu modelo inicial e incapaz de inventar políticas coesas e a uma só voz - eu disse coesas e a uma só voz - de índole expansionista. Aliás, seguir-se-ão novos cortes, não se tenham dúvidas. É, porque finalmente um banco central absolutamente embriagado pelo seu mandato único admite e reconhece que as políticas monetárias existem para serem usadas. É só por isso, não é por mais nada, está bem? Isso que vocês estão a fazer nada resolve, mas pelo menos deram o braço a torcer. É bonito. 
Se o modelo existente não é o desejável, então que se comece a construir a montante, pela via política. Mas enquanto isso não acontece sejam coerentes, caneco! Será o início de uma nova era de gestão, agora que Trichet saiu? Duvido, mas ainda assim o sinal está lá. Ah, e já agora, enquanto o modelo americano funciona, alterem lá o mandatozinho. Já se percebeu que o vosso já era.

Paralelamente e aproveitando a clarividência temporária de vocelências, seria desejável que a excelsa classe política se rodeasse de gente que entende destas matérias e tivesse a coragem de confrontar os seus povos, os seus eleitores, com a necessidade de mudanças fundamentais... ah, e já agora, que me descobrissem no entretanto um chefe de estado à altura de uma campanha desse calibre. A Europa não funciona sem um orçamento Europeu e, maior ainda, sem um Estado Europeu - Estados Unidos da Europa - e é esse o diagnóstico que não há coragem de fazer. Os sintomas estão todos lá e o médico não diagnostica em condições! Se um sistema desse tipo é uma tremenda utopia, isso já é outra história que merece ser estudada à exaustão. Eu, por exemplo, sou céptico em relação a isso por certas e determinadas razões, mas neste momento não tenho tempo. Agora, inadmissível é insistir-se na tese da austeridade e da redução do défice e da dívida por intermédio de orçamentos recessivos (depressivos?), inventado cimeiras atrás de cimeiras, com bonecos como Merkel e Sarkozy a desempenharam um papel decrépito enquanto se auto-intitulam regentes sei lá do quê,  porque nada disso vai funcionar. É matar o doente pela cura. Depois admiram-se de os "mercados", essa figura de bicho-papão, salivarem de cada vez que uma das vossas cimeiras termina.Tudo o que vocês decidem é um deleite para um trader profissinal, entendam isso (depois aprofundo). A Europa, mercê da manta de retalhos que constituem os seus povos, só tem duas hipóteses: ou reverte ao modelo pré-CEE, ou se federa a sério.


P.S. L., já te disse vezes sem conta que estamos a viver tempos notáveis. Eu sei que estou a ferver, que o Euro só tem 10 anos o que faz dele uma moeda jovem e o camandro. Mas que queres, isto tudo enerva-me.

Bolsa


Nota rápida: também a mim me parece lógico que a China não conseguirá escapar a uma fase recessiva lá para 2013 ou 2014. Os chineses estão a meio de uma campanha extremamente feroz para turbinar a economia. Ora, essa realidade sempre conduziu, mais tarde ou mais cedo, a políticas monetárias mais restritivas para garantir o controlo da inflação, o que, mesmo nos sistemas mais experientes, pode acabar em contracção económica. Se adicionarmos à equação o facto de se tratar de uma economia relativamente recente no que toca à experiência nesse tipo de carnavais político-financeiros, parece-me então lógico que a recessão esteja iminente.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

E assim vai a vida

A concentração... a noção de que algo não está bem, mas tenho-que-passar-a-mensagem-nem-que-a-vaca-tussa... a jornalista que não tá nem aí... Sim, tudo isto deveria ser estudado.




Bolsa


Novo leilão de dívida pública italiana. Hoje. Peço a vossa atenção para o gráfico, que traduz a evolução do juro das obrigações a 10 anos. Como muitos têm vindo a prognosticar há meses (self-fulfilling prophecy, será?! - joking!), não serão a Espanha ou a França os próximos a enfrentar dificuldades sérias, mas sim a Itália. Se o juro pago para conseguir colocar dívida a 10 anos chegar aos 7%, a Itália corre sério risco de ficar completamente de fora do mercado da dívida soberana, tal e qual como aconteceu com Portugal ou com a Grécia. O problema é que a dimensão do mercado de obrigações italiano não é susceptível de gincanas financeiras. A Itália constitui um real exemplo de um país demasiado grande para bailouts (too big to fail, as they say) como os que temos vindo a assistir nos últimos anos e que estão a destruir lentamente Portugal ou a Grécia. Não quero com isto dizer que os "mercados" são os culpados do que se passa. Sempre considerei e considero que os mercados são a consequência e nunca a causa. Admito que esta última afirmação possa ser polémica para alguns, pelo que carecia de algumas clarificações adicionais. Mas agora não temos tempo. Fica para outro post.


Bolsa

O "nosso" António Horta-Osório, CEO do Lloyds Banking Group, inesperadamente entra de baixa médica, pelo menos até ao final do ano - aqui. Ainda "ontem" estreou estas funções no grupo, caneco! Espera-se que não seja nada...

Momento de baile


Rock in Rio 2011. Maroon 5.

Phones. Check. Volume up. Check. 1, 2, 1, 2, 3, 4… DANCE!




Steve, by Mona



Desde a morte de Steve Jobs que tinha vontade de deixar algumas linhas sobre este indivíduo que me influenciou a diversos níveis. Porém, tudo o que me ocorria dizer parecia esgotado, considerando que já se escreveram barragens de tinta sobre ele, quer antes do seu desaparecimento, quer daí para cá, por gente da mais variada origem e com bem mais informação do que eu. Já sem esperança de me resolver a dizer o quer que fosse, eis senão quando me deparo com um artigo de jornal que, para mim, fez toda a diferença. E é esse artigo que venho aqui deixar, e explico porquê mais à frente. Não sem antes invocar breves passagens da minha experiência pessoal, para o que espero que me desculpem. Para o restante, é só googlar o nome do homem.

Ame-se ou odeie-se, trata-se de alguém que marcou indelevelmente uma era e as suas equipas mudaram para sempre a face da tecnologia desde os primórdios da Internet até, presume-se, daqui por muitos e bons anos.

Dele escreveu muita gente, desde Steve Wozniak (seu sócio inicial), a ex-inimigos com pazes feitas, como Bill Gates. Dele se contou como teve uma infância feliz, mas atormentada pela ideia de ter sido adoptado, assim como da busca obcecada pelos pais biológicos. Dele se escreveu sobre como fundou a Apple e da sua guerra com o board que culminaria com o seu despedimento, ou da criação da NeXT, empresa onde Tim Berners-Lee inventava então algo tão inusitado como a World Wide Web… enfim, fazia-se história a uma velocidade vertiginosa naquela época! Era “A” América dos tempos de ouro!… Da sua incursão pela Pixar e depois pela Disney também foi tudo dito, tal como do regresso triunfal à Apple, da revolução que originou nos computadores pessoais, da história de sucesso da Apple na bolsa até se tornar no mês passado a maior empresa do Mundo em termos de capitalização bolsista (número de acções x preço de cada acção), destronando o mostro que se pensava então invencível, a Exxon, etc.
Mais recentemente, nos últimos anos, os seus detractores apologistas da internet gratuita encontraram muito combustível para queimar à conta das polémicas em torno da propriedade intelectual (o cavalo de batalha de Steve Jobs durante uma vida inteira), que culminaria, alegadamente, no seu juramento em ir contra a Google até ao último centavo. Não sei se será verdade esta ideia do “último centavo”, mas depois de ter assistido a imensas intervenções dele, é uma ideia que não me choca de forma alguma. A imprensa da especialidade atribuiu-lhe, inclusivamente, a seguinte frase: “I'm willing to go thermonuclear war on this”, referindo-se à batalha jurídica que antecipava contra o Android que, segundo ele, desafiava descaradamente uma série de patentes da própria Apple. Especulação ou não, a verdade é que o até há bem pouco tempo CEO da Google, Eric Schmidt, viu-se obrigado a renunciar ao cargo de Director que também mantinha na Apple.

Tomei conhecimento de Steve Jobs já depois de saber quem era Bill Gates. Aqui na Europa a Microsoft chegava primeiro ao grande público na década de ‘80. Cortesia da IBM, pois claro. Enquanto Steve Jobs lutava internamente para fazer valer o seu valor, Bill Gates já tinha estabelecido uma parceria inteligente com a gigante IBM. Entretanto, da Apple chegava nessa altura uma coisa chamada Macintosh, que deixou toda a gente de boca aberta, mas, dizia-se, “é soberbo, uma obra de arte, mas é caro e não dá para correr os programas todos, é para a malta da publicidade e do processamento de texto” – era mais ou menos esta a ideia que sintetizava o espírito com que se acolhia a novidade Apple cá deste lado do Atlântico. Ideia que se manteve por muitos anos e que sempre criou algum atrito à penetração da Apple no mercado dominado pela Microsoft.
E pronto, estava aberta uma guerra viciante entre dois gigantes da tecnologia informática. Para quem, como eu, se tornou adolescente no final dos anos 80 e interessado pela área, foi motivo para gastar rios de dinheiro em revistas da especialidade e, a partir daí, não mais deixar de acompanhar aquela empresa que tinha uma maçãzinha colorida como logótipo e que, na altura, ainda se chamava Apple Computer!
Mais tarde, a vida levou-me pelos caminhos da Bolsa e, nos últimos 6 ou 7 anos acompanhei de muito perto – tanto quanto a distância me impede, mas a tecnologia mo permite - a vida do empresário Steve Jobs. Assisti a dezenas de apresentações de resultados da Apple; ao anúncio da mudança de nome para Apple, Inc., numa demonstração propositada, clara e inequívoca de que a Apple queria tornar-se uma empresa de design tecnológico, muito para além da fabricação de computadores; vi e ouvi muitas das célebres conferências em que o próprio Steve apresentava os novos gadgets; senti a emoção de assistir em directo à apresentação do primeiro iPhone (inesquecível) e, já no último ano, ao momento que, de todos aqueles a que assisti dele, mais me comoveu e impressionou, muito em virtude da minha presente actividade profissional. Mais uma vez em directo, por vídeo, no City Hall de Palo Alto (é a Câmara Municipal lá da zona), Steve Jobs surge de jeans – como sempre -, com uma magreza de arrepiar, perante um painel de 4 ou 5 vereadores para fazer a apresentação sucinta do novo edifício de escritórios da Apple a ser construído, onde se iriam concentrar todos os colaboradores da empresa, até agora dispersos por vários edifícios. Estabelecendo uma comparação para que se perceba do que estou a falar, considere-se aquele tipo de reuniões que um promotor imobiliário absolutamente comum tem nas Câmaras Municipais, quando vai apresentar um projecto com vista à obtenção de viabilidade de construção. Simplificando, é isto. Nessa apresentação, descobri um poder de síntese, uma humildade e uma paz de espírito que, digo-vos com todas as letras, não sabia ser possível num ser humano. O contraste entre alguém que, sozinho, ali está perante aquela gente, alguém com um poder financeiro incomensurável, armado com uma humildade comovente e que se apresenta para informar que pretende construir aquele edifício (levou um esquiço) que “só” custará alguns biliões de dólares, que será o melhor edifício de escritórios do Mundo inteiro, destino de visita de arquitectos de aquém e de além mar, que vai albergar mais de 60000 empregados da empresa, etc., etc., e que se submete a uma bateria de perguntas, como se lhe estivessem a fazer um favor. Conceda-se que o painel estava realmente embevecido, aliás era ver o principal a fazer as perguntas a partir de um iPad – lindo! -, perguntas essas que pareciam irreais porquanto de tão somenos importância face ao gigantismo do estava à sua frente, mas que a formalidade obrigava a que fossem feitas. Aliás era patente no ar que todos percebiam o carácter formal do que estavam a fazer, muito mais do que substancial.
Gente, foram trinta minutos de puro surrealismo e espanto que não esquecerei facilmente.
 
Voltando ao primeiro parágrafo, porque é que resolvi escrever alguma coisa sobre Steve Jobs? Não foi pelo que escrevi acima. Isso não contém nada de novo, nem sequer é uma prosa de mestre. Foi pelo que li no New York Times há dias. Aqui. Porque, gente a falar de outra gente, é comum e não traz nada novo, só traz informação. Agora, uma irmã a falar de um irmão que amou e que perdeu, uma irmã que nos diz como é que ele era, através dos seus olhos, isso sim, é único, e merece ser realçado. Porque comove. E quem fala do coração, fala ao coração.
É de um homem como aquele que aparece a fazer o commencement speech de 2005 na Universidade de Stanford que correu mundo no Youtube, que a sua irmã Mona Simpson fala. Um homem com ideias e ideais. Inspirador, inspirado, imperfeito, mas que ela amava. A sua irmã, que ele conheceu já depois de jovem adulto. A sua irmã, que leu o elogio fúnebre que transcrevo abaixo, há dias atrás, numa igreja americana.

E pronto, disse o que queria e ninguém me interrompeu. Fixe! Obrigado Steve Jobs, pelos momentos que me tornaram alguns dias mais interessantes. Que venham mais como ele, o Mundo agradece.


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A Sister’s Eulogy for Steve Jobs

I grew up as an only child, with a single mother. Because we were poor and because I knew my father had emigrated from Syria, I imagined he looked like Omar Sharif. I hoped he would be rich and kind and would come into our lives (and our not yet furnished apartment) and help us. Later, after I’d met my father, I tried to believe he’d changed his number and left no forwarding address because he was an idealistic revolutionary, plotting a new world for the Arab people.

Even as a feminist, my whole life I’d been waiting for a man to love, who could love me. For decades, I’d thought that man would be my father. When I was 25, I met that man and he was my brother.

By then, I lived in New York, where I was trying to write my first novel. I had a job at a small magazine in an office the size of a closet, with three other aspiring writers. When one day a lawyer called me — me, the middle-class girl from California who hassled the boss to buy us health insurance — and said his client was rich and famous and was my long-lost brother, the young editors went wild. This was 1985 and we worked at a cutting-edge literary magazine, but I’d fallen into the plot of a Dickens novel and really, we all loved those best. The lawyer refused to tell me my brother’s name and my colleagues started a betting pool. The leading candidate: John Travolta. I secretly hoped for a literary descendant of Henry James — someone more talented than I, someone brilliant without even trying.

When I met Steve, he was a guy my age in jeans, Arab- or Jewish-looking and handsomer than Omar Sharif.

We took a long walk — something, it happened, that we both liked to do. I don’t remember much of what we said that first day, only that he felt like someone I’d pick to be a friend. He explained that he worked in computers.

I didn’t know much about computers. I still worked on a manual Olivetti typewriter.

I told Steve I’d recently considered my first purchase of a computer: something called the Cromemco.

Steve told me it was a good thing I’d waited. He said he was making something that was going to be insanely beautiful.

I want to tell you a few things I learned from Steve, during three distinct periods, over the 27 years I knew him. They’re not periods of years, but of states of being. His full life. His illness. His dying.

Steve worked at what he loved. He worked really hard. Every day.

That’s incredibly simple, but true.

He was the opposite of absent-minded.

He was never embarrassed about working hard, even if the results were failures. If someone as smart as Steve wasn’t ashamed to admit trying, maybe I didn’t have to be.

When he got kicked out of Apple, things were painful. He told me about a dinner at which 500 Silicon Valley leaders met the then-sitting president. Steve hadn’t been invited.

He was hurt but he still went to work at Next. Every single day.

Novelty was not Steve’s highest value. Beauty was.

For an innovator, Steve was remarkably loyal. If he loved a shirt, he’d order 10 or 100 of them. In the Palo Alto house, there are probably enough black cotton turtlenecks for everyone in this church.

He didn’t favor trends or gimmicks. He liked people his own age.

His philosophy of aesthetics reminds me of a quote that went something like this: “Fashion is what seems beautiful now but looks ugly later; art can be ugly at first but it becomes beautiful later.”

Steve always aspired to make beautiful later.

He was willing to be misunderstood.

Uninvited to the ball, he drove the third or fourth iteration of his same black sports car to Next, where he and his team were quietly inventing the platform on which Tim Berners-Lee would write the program for the World Wide Web.
Steve was like a girl in the amount of time he spent talking about love. Love was his supreme virtue, his god of gods. He tracked and worried about the romantic lives of the people working with him.

Whenever he saw a man he thought a woman might find dashing, he called out, “Hey are you single? Do you wanna come to dinner with my sister?”

I remember when he phoned the day he met Laurene. “There’s this beautiful woman and she’s really smart and she has this dog and I’m going to marry her.”

When Reed was born, he began gushing and never stopped. He was a physical dad, with each of his children. He fretted over Lisa’s boyfriends and Erin’s travel and skirt lengths and Eve’s safety around the horses she adored.

None of us who attended Reed’s graduation party will ever forget the scene of Reed and Steve slow dancing.

His abiding love for Laurene sustained him. He believed that love happened all the time, everywhere. In that most important way, Steve was never ironic, never cynical, never pessimistic. I try to learn from that, still.

Steve had been successful at a young age, and he felt that had isolated him. Most of the choices he made from the time I knew him were designed to dissolve the walls around him. A middle-class boy from Los Altos, he fell in love with a middle-class girl from New Jersey. It was important to both of them to raise Lisa, Reed, Erin and Eve as grounded, normal children. Their house didn’t intimidate with art or polish; in fact, for many of the first years I knew Steve and Lo together, dinner was served on the grass, and sometimes consisted of just one vegetable. Lots of that one vegetable. But one. Broccoli. In season. Simply prepared. With just the right, recently snipped, herb.

Even as a young millionaire, Steve always picked me up at the airport. He’d be standing there in his jeans.

When a family member called him at work, his secretary Linetta answered, “Your dad’s in a meeting. Would you like me to interrupt him?”

When Reed insisted on dressing up as a witch every Halloween, Steve, Laurene, Erin and Eve all went wiccan.

They once embarked on a kitchen remodel; it took years. They cooked on a hotplate in the garage. The Pixar building, under construction during the same period, finished in half the time. And that was it for the Palo Alto house. The bathrooms stayed old. But — and this was a crucial distinction — it had been a great house to start with; Steve saw to that.

This is not to say that he didn’t enjoy his success: he enjoyed his success a lot, just minus a few zeros. He told me how much he loved going to the Palo Alto bike store and gleefully realizing he could afford to buy the best bike there.

And he did.

Steve was humble. Steve liked to keep learning.

Once, he told me if he’d grown up differently, he might have become a mathematician. He spoke reverently about colleges and loved walking around the Stanford campus. In the last year of his life, he studied a book of paintings by Mark Rothko, an artist he hadn’t known about before, thinking of what could inspire people on the walls of a future Apple campus.

Steve cultivated whimsy. What other C.E.O. knows the history of English and Chinese tea roses and has a favorite David Austin rose?

He had surprises tucked in all his pockets. I’ll venture that Laurene will discover treats — songs he loved, a poem he cut out and put in a drawer — even after 20 years of an exceptionally close marriage. I spoke to him every other day or so, but when I opened The New York Times and saw a feature on the company’s patents, I was still surprised and delighted to see a sketch for a perfect staircase.

With his four children, with his wife, with all of us, Steve had a lot of fun.

He treasured happiness.

Then, Steve became ill and we watched his life compress into a smaller circle. Once, he’d loved walking through Paris. He’d discovered a small handmade soba shop in Kyoto. He downhill skied gracefully. He cross-country skied clumsily. No more.

Eventually, even ordinary pleasures, like a good peach, no longer appealed to him.

Yet, what amazed me, and what I learned from his illness, was how much was still left after so much had been taken away.

I remember my brother learning to walk again, with a chair. After his liver transplant, once a day he would get up on legs that seemed too thin to bear him, arms pitched to the chair back. He’d push that chair down the Memphis hospital corridor towards the nursing station and then he’d sit down on the chair, rest, turn around and walk back again. He counted his steps and, each day, pressed a little farther.

Laurene got down on her knees and looked into his eyes.

“You can do this, Steve,” she said. His eyes widened. His lips pressed into each other.

He tried. He always, always tried, and always with love at the core of that effort. He was an intensely emotional man.

I realized during that terrifying time that Steve was not enduring the pain for himself. He set destinations: his son Reed’s graduation from high school, his daughter Erin’s trip to Kyoto, the launching of a boat he was building on which he planned to take his family around the world and where he hoped he and Laurene would someday retire.

Even ill, his taste, his discrimination and his judgment held. He went through 67 nurses before finding kindred spirits and then he completely trusted the three who stayed with him to the end. Tracy. Arturo. Elham.

One time when Steve had contracted a tenacious pneumonia his doctor forbid everything — even ice. We were in a standard I.C.U. unit. Steve, who generally disliked cutting in line or dropping his own name, confessed that this once, he’d like to be treated a little specially.

I told him: Steve, this is special treatment.

He leaned over to me, and said: “I want it to be a little more special.”

Intubated, when he couldn’t talk, he asked for a notepad. He sketched devices to hold an iPad in a hospital bed. He designed new fluid monitors and x-ray equipment. He redrew that not-quite-special-enough hospital unit. And every time his wife walked into the room, I watched his smile remake itself on his face.

For the really big, big things, you have to trust me, he wrote on his sketchpad. He looked up. You have to.

By that, he meant that we should disobey the doctors and give him a piece of ice.

None of us knows for certain how long we’ll be here. On Steve’s better days, even in the last year, he embarked upon projects and elicited promises from his friends at Apple to finish them. Some boat builders in the Netherlands have a gorgeous stainless steel hull ready to be covered with the finishing wood. His three daughters remain unmarried, his two youngest still girls, and he’d wanted to walk them down the aisle as he’d walked me the day of my wedding.

We all — in the end — die in medias res. In the middle of a story. Of many stories.

I suppose it’s not quite accurate to call the death of someone who lived with cancer for years unexpected, but Steve’s death was unexpected for us.

What I learned from my brother’s death was that character is essential: What he was, was how he died.

Tuesday morning, he called me to ask me to hurry up to Palo Alto. His tone was affectionate, dear, loving, but like someone whose luggage was already strapped onto the vehicle, who was already on the beginning of his journey, even as he was sorry, truly deeply sorry, to be leaving us.

He started his farewell and I stopped him. I said, “Wait. I’m coming. I’m in a taxi to the airport. I’ll be there.”

“I’m telling you now because I’m afraid you won’t make it on time, honey.”

When I arrived, he and his Laurene were joking together like partners who’d lived and worked together every day of their lives. He looked into his children’s eyes as if he couldn’t unlock his gaze.

Until about 2 in the afternoon, his wife could rouse him, to talk to his friends from Apple.

Then, after awhile, it was clear that he would no longer wake to us.

His breathing changed. It became severe, deliberate, purposeful. I could feel him counting his steps again, pushing farther than before.

This is what I learned: he was working at this, too. Death didn’t happen to Steve, he achieved it.

He told me, when he was saying goodbye and telling me he was sorry, so sorry we wouldn’t be able to be old together as we’d always planned, that he was going to a better place.

Dr. Fischer gave him a 50/50 chance of making it through the night.

He made it through the night, Laurene next to him on the bed sometimes jerked up when there was a longer pause between his breaths. She and I looked at each other, then he would heave a deep breath and begin again.

This had to be done. Even now, he had a stern, still handsome profile, the profile of an absolutist, a romantic. His breath indicated an arduous journey, some steep path, altitude.

He seemed to be climbing.

But with that will, that work ethic, that strength, there was also sweet Steve’s capacity for wonderment, the artist’s belief in the ideal, the still more beautiful later.

Steve’s final words, hours earlier, were monosyllables, repeated three times.
Before embarking, he’d looked at his sister Patty, then for a long time at his children, then at his life’s partner, Laurene, and then over their shoulders past them.

Steve’s final words were:

OH WOW. OH WOW. OH WOW.