Melbourne,
Austrália. São quase duas da madrugada de segunda-feira e o público permanece
indefectível. Sala cheia como um ovo, ninguém arreda pé mesmo depois de
aproximadamente seis horas seguidas lá dentro. Discursos finais, vencedor e
vencido exprimem agradecimentos, estou estarrecido. Cansado, quase nem dou pela
comoção que me invade. Não tivesse assistido a tudo e pelo que os dois dizem
teria dificuldade em perceber o desfecho da contenda. A forma como se mistura
rivalidade, respeito e admiração mútua é incompreensível, está muito acima do
que um ser humano vulgar pode admitir. São dois indivíduos incrivelmente
espectaculares que ali estão. E voltaram a surpreender-me. Penso sempre que já
não é possível mais e melhor e de todas as vezes o Ténis prova-me que estou
enganado, não conheço nada assim noutro desporto - sou suspeito porque desde
cedo o considerei o desporto mais belo, mas caguei -. Os campeões deste
desporto, todos eles (e são tantos, tantos), são desportistas diferenciados e
de uma clarividência desarmante. Nunca compreendi porque é que isto acontece,
mas é. E quando pensamos que agora é que foi, que para aparecer outro assim
será necessária mais uma geração, eis que aparece outro e depois outro e todos
os anos a emoção volta ao rubro e me espanto como da primeira vez.
O
evento? Bom, tratou-se da final do Open da Austrália de 2012 e defrontaram-se
Novak Djokovic e Rafael Nadal, números um e dois do mundo, respectivamente. O
facto de ter sido a final de um Grand Slam mais longa de sempre tornou-se
desprezível face à enormidade dos artistas. Tecnicamente? Poderá não ter sido o
melhor encontro que já vi, mas o que perdura é a emoção. E essa, ui. Quem
ganhou? Ambos e o Djokovic ergueu a taça.