sexta-feira, 13 de julho de 2012

Valores

Haverá povo mais patriota do que o norte americano? É capaz de não. “E, contudo, ela move-se”, como dizia o outro. 
Ultimamente tenho lido alguns artigos sobre o facto de a equipa Olímpica norte americana ser uma das únicas no mundo cujo financiamento advém de patrocinadores privados e de como essa circunstância tem aspectos favoráveis, como por exemplo não onerar os contribuintes, etc, etc. Parece-me bem, é uma cena americana e isso e eu tenho alguma simpatia por aquele país. Só que depois sou apanhado na curva quando surgem notícias como esta, em que o facto relatado subverte o princípio do evento que é a própria razão de ser do patrocínio, e um tipo fica confuso. Evidentemente, o facto em causa é indissociável dos interesses de um dos patrocinadores e não há nada a fazer porque desígnios mais altos se levantam. Tudo bem. Mas então: fará sentido continuar a falar de valores como “patriotismo” nos tempos modernos?

- Senate Majority Leader Harry Reid when asked about a news report that the U.S. Olympic team’s opening ceremony uniforms have “made in China” labels on them:
 
 
Foto: - Senate Majority Leader Harry Reid when asked about a news report that the U.S. Olympic team’s opening ceremony uniforms have “made in China” labels on them. 

Our story: http://on.wsj.com/ND2ePw

What do you think of Mr. Reid's response? What do you think about the decision to order uniforms made in China?
 
 
 
 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Small is beautiful (?)

Atente-se nas quedas aos 2:10m e 2:19m, por exemplo. A primeira: o malabarismo, a perícia, a capacidade de surpreender até a si próprio. Muita categoria. A segunda: a calma, a descontração, o Peter Clouseau Sellers que há em si.
É que não me apetece ir pa casa, está uma temperatura agradável aqui no escritório.



Putas velhas


Arquivaria esta entrevista a Manuel António Pina no directório “já não há disto”. É aflitivo o marasmo em que se encontra o panorama entrevistadoristico no nosso país. Donde, coisas destas em aparecendo merecem ser assinaladas.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Sobre a relatividade


Diz que beber sumo de laranja é salutar. E beber cinquenta litros, continuará a ser? Diz ainda que a relatividade é um conceito poderoso e tudo é relativo (mas se tudo é relativo, então o próprio conceito é absoluto, o que nega a premissa. Logo, estamos perante um paradoxo e começo a ficar enervado com isto logo de início). E a prova do que afirmo é este prosaico exemplo que trago a vocelências: estava ali a olhar para uma montanha de tangerinas que tenho numa terrina, era esta a ligação com o exemplo anterior ok, e resolvi comer algumas. Porque faz bem, bla bla bla. Só que comi onze. E agora, sinto-me bem? Pois claro que não me sinto bem, inclusivamente até me sinto bastante mal. Subjaz ao facto (esta ouvi de uma advogada, não me chateiem) que da quinta tangerina em diante e até chegar à décima primeira, foi o tempo que levei a compor mentalmente este post – ter ideias, mesmo parvas, dói. Mais rápido de raciocínio tivesse sido, menos teria comido. Neste momento já qualquer pessoa de bem conclui com facilidade que a parvoíce em doses industriais é uma verdade absoluta, no sentido em que certos exemplos são reconhecíveis como tal onde quer que seja. Bom, também se conseguem encontrar exemplos de mal absoluto (está provado que afinal o conceito de relatividade não é absoluto, logo não se dá o paradoxo que me ia tirar o sono daqui a pouco), que não oferece discussão à luz de qualquer sociedade e isso assim – como exemplo pertencente à noção de “mal absoluto”, e para não se dizer que levanto falsos testemunhos, aqui fica um: o acto de matar velhinhas na estrada abrindo a porta do carro em andamento e batendo-lhes com a mesma, só porque dá pontos.
Queria fazer um post sobre economia-em-sentido-lato, mas teria que tirar uma foto. E o livro ficou no carro. Só tenho aqui a máquina fotográfica. Fica para amanhã, ainda que se importem. Não me sinto bem, suspeito que já disse acima mas não me apetece ir verificar.
Para já era isto, a ver se nos encontramos nos próximos capítulos. Agora vou tentar não vomitar.



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ainda me espanto


Melbourne, Austrália. São quase duas da madrugada de segunda-feira e o público permanece indefectível. Sala cheia como um ovo, ninguém arreda pé mesmo depois de aproximadamente seis horas seguidas lá dentro. Discursos finais, vencedor e vencido exprimem agradecimentos, estou estarrecido. Cansado, quase nem dou pela comoção que me invade. Não tivesse assistido a tudo e pelo que os dois dizem teria dificuldade em perceber o desfecho da contenda. A forma como se mistura rivalidade, respeito e admiração mútua é incompreensível, está muito acima do que um ser humano vulgar pode admitir. São dois indivíduos incrivelmente espectaculares que ali estão. E voltaram a surpreender-me. Penso sempre que já não é possível mais e melhor e de todas as vezes o Ténis prova-me que estou enganado, não conheço nada assim noutro desporto - sou suspeito porque desde cedo o considerei o desporto mais belo, mas caguei -. Os campeões deste desporto, todos eles (e são tantos, tantos), são desportistas diferenciados e de uma clarividência desarmante. Nunca compreendi porque é que isto acontece, mas é. E quando pensamos que agora é que foi, que para aparecer outro assim será necessária mais uma geração, eis que aparece outro e depois outro e todos os anos a emoção volta ao rubro e me espanto como da primeira vez.
O evento? Bom, tratou-se da final do Open da Austrália de 2012 e defrontaram-se Novak Djokovic e Rafael Nadal, números um e dois do mundo, respectivamente. O facto de ter sido a final de um Grand Slam mais longa de sempre tornou-se desprezível face à enormidade dos artistas. Tecnicamente? Poderá não ter sido o melhor encontro que já vi, mas o que perdura é a emoção. E essa, ui. Quem ganhou? Ambos e o Djokovic ergueu a taça.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


Boy with a pipe - Pablo Picasso, 1905

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ahh, que saudade dos autos-de-fé!


Enquanto espero mesa para almoço no ‘Darwin’s Café’ da Fundação Champalimaud, refastelado num dos (aparentemente) antiquíssimos sofás do hall de entrada, olho para as imponentes paredes (só a arquitectura/decoração de interiores deste restaurante dava um post, não fosse o projecto e a gestão do espaço da autoria da equipa LA Caffé), distraindo a atenção pelos quadros e peças variadas alusivos ao cientista que dá nome à casa. Detenho-me na seguinte frase, emoldurada em letras garrafais e colocada sobre um móvel de madeira escura de aspecto pesadão com mais de 2,50 metros de altura:

It is not the strongest of the species that survive, nor the most intelligent, but the ones most responsive to change.

Por breves instantes juro que me senti aturdido, quase perdido no tempo. Não pela frase em si, que conheço de quando estudante no secundário, mas pelo sentimento contraditório provocado pelo conjunto: uma sala moderna, com apontamentos de decoração invocando o passado, inserida numa instituição de vanguarda, com aquela frase ali especada, tão actual, tão brutalmente verdadeira, assentando que nem uma luva às criaturas da nossa própria espécie nos dias de hoje.
Racionalizando e desmistificando, é evidente que a ideia expressa na frase assemelha-se profética porque se vivem tempos difíceis. Nada mais do que isso. Mas impressiona na mesma. Se vivêssemos tempos mais favoráveis, de crescimento económico, aposto que nem notaria na frase do senhor Darwin. Mas assim não, a tipa apareceu divina e ficou para me assombrar. Agora tenho isto na cabeça e passo o dia a dizer mentalmente “pois, o homem tinha razão, ora aqui está”, por tudo e por nada que acontece. Mas que querem, aquilo serve!

Era só isto, voltem lá à vidinha que eu vou ali tentar ser mais adaptativo. Querem ver um sinal de adaptação: por mim era voltar aos autos-de-fé. Era uma limpeza!



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

“They were a company stuck in time”


Os gigantes também morrem e é com profunda tristeza, embora com tranquilidade, que assisto a mais um sinal da passagem do tempo. Finalmente, lamentavelmente, a Eastman Kodak, empresa centenária, pede a insolvência. Há horas atrás, a companhia, assim como as suas subsidiárias em solo americano, pediram a reorganização ao abrigo do famigerado Chapter 11 (protecção de credores).

É o corolário de mais de dez anos de agonia e uma queda sistemática na cotação do título. Depois de ter valido 90 dólares por acção (valor ajustado aos stock-splits) no auge dos loucos anos ‘90, iniciou um percurso para a morte que nunca mais parou, até ontem, altura em que cotou nos 0,60 dólares por acção. Hoje, com o anúncio, está a cair 35% na NYSE para cerca de 0,36 dólares. Já nem sequer se pode falar de golpe de misericórdia, tanto mais para tipos como eu, que acreditam que as cotações são, na sua maioria e particularmente numa óptica de longo prazo, consequências e não causas. Uma companhia que teve uma capitalização bolsista superior a 20 biliões de dólares e que hoje vale pouco mais de 90 milhões, contando mesmo assim, aos dias de hoje, com quase 20000 empregados.

A Kodak, que inventou a película de rolo e abriu um mundo novo ao cinema no final do século XIX, a Kodak que morre por não ter sabido acompanhar a era digital e que, ironia das ironias, inventou em 1975 a primeira câmara digital do mundo.



terça-feira, 3 de janeiro de 2012


E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce

Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti


Nando Reis, Sutilmente