segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

De lá de cima


À segunda foi de vez. Conquistámos o pico da Serra de Montejunto às 13:52h de ontem. Da primeira vez ficámos por volta dos 400m de altitude. Problemas físicos e mecânicos inesperados fizeram-nos desistir e voltar para trás. Uma semana depois, e porque somos de boa casta, voltámos ao campo de batalha e a serra não se ficou a rir. Conto-vos como foi.
O jogo não era simples. Em vez de subir directo ao pico, o percurso todo-o-terreno previa serpentear pela serra sujeitos a subidas e descidas alucinantes, para um total de desnível acumulado ascendente de cerca de 1200m. O clima estava frio, mesmo frio, e nublado. Diferente da primeira vez, era agora ameaçador, ao desafio, como se a serra tivesse cerrado os dentes descontente por termos regressado. Depois de horas a pedalar em todo-o-terreno e sem um único problema mecânico, deparamo-nos com uma subida impressionante sobre pedra calcária desagregada que nos fez desmontar a todos (se fosse granítica a história seria outra) e subir a pé. É evidente que para uma montanha que se preze isto é baixa altitude, mas mesmo assim tão inóspito que isto é!, lá se fez, e no meio do esforço dou por mim espantado com a ideia dos antigos a povoarem sítios destes há centenas de anos atrás.
Nesta altura os rostos já não disfarçam o cansaço e um dos meus amigos bttistas que convoquei à última hora quebra valentemente. Já ficava para trás em todos os troços enquanto certamente me desonrava de tudo, mas aqui foi o golpe de misericórdia. É então que vislumbramos o ataque final às antenas e radares que se encontram instalados no pico. Senti-me surpreendentemente bem a negociar a subida final, agora sobre asfalto. A vontade faz milagres e trepo renascido. Aos 666m de altitude e com um frio de rachar, a visão era sublime. Mesmo o meu futuro ex-amigo que ainda hoje de manhã me disse que tinha “ligeiras dores e dificuldade em andar”, ahah, gostou tanto que me pediu que lhe tirasse uma foto lá em cima para emoldurar e meter na parede do escritório. 

Falta-me o necessário talento para descrever a sensação de estar lá em cima depois da barbárie física a que me sujeitei e mesmo uma fotografia não lhe faz jus. Só me ocorre dizer o seguinte: como se nada mais existisse, é todo um cérebro que só se lembra de sorrir. É libertador, senhores.


Aos 400m de altitude, da primeira tentativa. Céu limpo e radioso, parecia que estávamos num avião a olhar cá para baixo. Arrepiante.



 


No ponto da vitória, com as nuvens mais próximas do que nunca quase a brincarem connosco. Se mais montanha houvesse mais íamos atrás delas, tenho a certeza. 






5 comentários:

Lena disse...

Por que caminhos te metes. Primeiro caminhos de Santiago e agora á procura da BESTA?
Pelas imagens que mostras pare estares no Céu não no Inferno. Começo a ficar confusa.

Miguel disse...

Besta? Mas qual besta?

Lena disse...

666 é o Nº da BESTA

Delfim disse...

o demo não teve qq hipótese! trazíamos a benção de Santiago. :)

Lena disse...

daí as fotos magníficas