quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ahh, que saudade dos autos-de-fé!


Enquanto espero mesa para almoço no ‘Darwin’s Café’ da Fundação Champalimaud, refastelado num dos (aparentemente) antiquíssimos sofás do hall de entrada, olho para as imponentes paredes (só a arquitectura/decoração de interiores deste restaurante dava um post, não fosse o projecto e a gestão do espaço da autoria da equipa LA Caffé), distraindo a atenção pelos quadros e peças variadas alusivos ao cientista que dá nome à casa. Detenho-me na seguinte frase, emoldurada em letras garrafais e colocada sobre um móvel de madeira escura de aspecto pesadão com mais de 2,50 metros de altura:

It is not the strongest of the species that survive, nor the most intelligent, but the ones most responsive to change.

Por breves instantes juro que me senti aturdido, quase perdido no tempo. Não pela frase em si, que conheço de quando estudante no secundário, mas pelo sentimento contraditório provocado pelo conjunto: uma sala moderna, com apontamentos de decoração invocando o passado, inserida numa instituição de vanguarda, com aquela frase ali especada, tão actual, tão brutalmente verdadeira, assentando que nem uma luva às criaturas da nossa própria espécie nos dias de hoje.
Racionalizando e desmistificando, é evidente que a ideia expressa na frase assemelha-se profética porque se vivem tempos difíceis. Nada mais do que isso. Mas impressiona na mesma. Se vivêssemos tempos mais favoráveis, de crescimento económico, aposto que nem notaria na frase do senhor Darwin. Mas assim não, a tipa apareceu divina e ficou para me assombrar. Agora tenho isto na cabeça e passo o dia a dizer mentalmente “pois, o homem tinha razão, ora aqui está”, por tudo e por nada que acontece. Mas que querem, aquilo serve!

Era só isto, voltem lá à vidinha que eu vou ali tentar ser mais adaptativo. Querem ver um sinal de adaptação: por mim era voltar aos autos-de-fé. Era uma limpeza!



2 comentários:

Bluesy disse...

Não me venhas com estas coisas: quem são adapta são as contorcionistas de circo e os preservativos.

Miguel disse...

Não percebes nada disto.