Perguntava-me o meu amigo L. porque é que as quedas
nas cotações de acções ou mais flagrantemente nos índices bolsistas são
repentinas e intensas e as subidas mais lentas e suaves. Para quem se interessa
pela área é um tema apaixonante, de maneira que vou fazer um esforço para
clarificar a dúvida dele com a frieza possível.
Embora os mercados bolsistas sejam exemplarmente
eficientes a longo prazo e seja raro o investidor conseguir batê-los nesses
períodos de tempo, toda a movimentação de curto prazo – é o mesmo que dizer,
especulativa - está dominada por duas emoções, o medo e a ganância.
Acontece que o medo é uma emoção mais
poderosa do que a ganância. Em face de uma situação que configure perigo, o
instinto natural de autodefesa destrona o desejo de
preservar o capital.
Como ilustração, costuma invocar-se a parábola financeira
das moedas de ouro e dos gorilas perigosos, que reza mais ou menos assim: se
estivermos andar na rua e alguém atirar centenas de moedas de ouro ao ar, após
uns momentos de ponderação o instinto
natural leva-nos a tentar apanhar tantas moedas quantas conseguirmos. Ganância.
Mas se as mesmas moedas forem atiradas para o ar e aterrarem junto de um gorila
de 500 quilos empunhando uma motoserra, o nosso instinto natural é correr dali
para fora o mais rápido possível. Medo. E não precisamos de pensar no medo, é
um instinto natural, uma resposta impulsiva, e o resultado é dramático. A
ganância acumula com o tempo, ao passo que o medo aumenta a um ritmo
estonteante, num abrir e fechar de olhos.
É de referir investigadores terem descoberto que os
humanos obtêm o mesmo nível de satisfação emocional por ganharem, salvo erro,
2,5 unidades monetárias, quanto o nível de descontentamento que obtêm por
perderem 1 unidade monetária. O nosso cérebro de homem das cavernas está
formatado de modo a que ganhar 25000 euros faz-nos sentir tão bem quando perder
10000 euros nos faz sentir mal. Basicamente, o medo é 2,5 vezes mais forte do
que a ganância.
Na presença de situações reconhecidas como perigosas, o
medo origina um processo de fuga (venda) que se auto alimenta e alastra levando
a que mais gente entre na “carruagem”. A consequência é directa: movimentações
de preço muito abruptas (volatilidade) e, eventualmente, pânico. É curioso
observar que só depois de se abandonarem as posições é feita a respectiva
análise e é avaliada a situação, de fora.
Não deixa de ser curioso constatar, numa
perspectiva diferente e à qual estes princípios não se aplicam, como evolui qualquer índice bolsista ao longo de um período de tempo
muito longo, tipicamente superior a qualquer ciclo económico mundial.
Efectivamente, se observarmos um gráfico em que o eixo das abcissas diz
respeito ao tempo e se escolhermos uma definição baixa (intervalos longos), as
quedas repentinas significantes de períodos de medo intenso são pouco ou nada detectáveis. Ao invés, destaca-se a tendência de crescimento da função - a abordar em post futuro, se tiver paciência.
Atribuo a esta dualidade entre o medo e a ganância
o facto de o jogo mais fantástico que o Homem já inventou e que só tem duas
jogadas, comprar ou vender, ser de uma complexidade ímpar, pelo menos
desconheço qualquer paralelo e atenção porque já estive numa mina a 700 m de profundidade e sei
que o Homem já foi à Lua e também projectou e construiu centrais nucleares.
Pois, mas nada se compara.
Após todos estes anos continua a impressionar-me
pensar que, por mais teorias que se criem, por mais sistemas que se inventem,
por mais capacidade computacional que se atire ao mercado, os movimentos de
curto prazo foram e sempre serão dominados pelo equilíbrio de forças entre o
medo e a ganância. Enquanto humanos estiverem envolvidos em qualquer acção de trading, será à psicologia que caberá a
árdua tarefa de tentar explicar a razão de ser das coisas e a missão impossível
de as tentar prever.
Dito isto… estamos a viver tempos notáveis (L.,
esta é para ti), está a fazer-se história a sério e por conseguinte é bem
possível que tudo o que escrevi acima também venha a ser posto em causa pelas
novas realidades que se avizinham. Espero viver para assistir.
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