sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Psicologias


Perguntava-me o meu amigo L. porque é que as quedas nas cotações de acções ou mais flagrantemente nos índices bolsistas são repentinas e intensas e as subidas mais lentas e suaves. Para quem se interessa pela área é um tema apaixonante, de maneira que vou fazer um esforço para clarificar a dúvida dele com a frieza possível.

Embora os mercados bolsistas sejam exemplarmente eficientes a longo prazo e seja raro o investidor conseguir batê-los nesses períodos de tempo, toda a movimentação de curto prazo – é o mesmo que dizer, especulativa - está dominada por duas emoções, o medo e a ganância.

Acontece que o medo é uma emoção mais poderosa do que a ganância. Em face de uma situação que configure perigo, o instinto natural de autodefesa destrona o desejo de preservar o capital.
Como ilustração, costuma invocar-se a parábola financeira das moedas de ouro e dos gorilas perigosos, que reza mais ou menos assim: se estivermos andar na rua e alguém atirar centenas de moedas de ouro ao ar, após uns  momentos de ponderação o instinto natural leva-nos a tentar apanhar tantas moedas quantas conseguirmos. Ganância. Mas se as mesmas moedas forem atiradas para o ar e aterrarem junto de um gorila de 500 quilos empunhando uma motoserra, o nosso instinto natural é correr dali para fora o mais rápido possível. Medo. E não precisamos de pensar no medo, é um instinto natural, uma resposta impulsiva, e o resultado é dramático. A ganância acumula com o tempo, ao passo que o medo aumenta a um ritmo estonteante, num abrir e fechar de olhos.

É de referir investigadores terem descoberto que os humanos obtêm o mesmo nível de satisfação emocional por ganharem, salvo erro, 2,5 unidades monetárias, quanto o nível de descontentamento que obtêm por perderem 1 unidade monetária. O nosso cérebro de homem das cavernas está formatado de modo a que ganhar 25000 euros faz-nos sentir tão bem quando perder 10000 euros nos faz sentir mal. Basicamente, o medo é 2,5 vezes mais forte do que a ganância.

Na presença de situações reconhecidas como perigosas, o medo origina um processo de fuga (venda) que se auto alimenta e alastra levando a que mais gente entre na “carruagem”. A consequência é directa: movimentações de preço muito abruptas (volatilidade) e, eventualmente, pânico. É curioso observar que só depois de se abandonarem as posições é feita a respectiva análise e é avaliada a situação, de fora.

Não deixa de ser curioso constatar, numa perspectiva diferente e à qual estes princípios não se aplicam, como evolui qualquer índice bolsista ao longo de um período de tempo muito longo, tipicamente superior a qualquer ciclo económico mundial. Efectivamente, se observarmos um gráfico em que o eixo das abcissas diz respeito ao tempo e se escolhermos uma definição baixa (intervalos longos), as quedas repentinas significantes de períodos de medo intenso são pouco ou nada detectáveis. Ao invés, destaca-se a tendência de crescimento da função - a abordar em post futuro, se tiver paciência.

Atribuo a esta dualidade entre o medo e a ganância o facto de o jogo mais fantástico que o Homem já inventou e que só tem duas jogadas, comprar ou vender, ser de uma complexidade ímpar, pelo menos desconheço qualquer paralelo e atenção porque já estive numa mina a 700 m de profundidade e sei que o Homem já foi à Lua e também projectou e construiu centrais nucleares. Pois, mas nada se compara.

Após todos estes anos continua a impressionar-me pensar que, por mais teorias que se criem, por mais sistemas que se inventem, por mais capacidade computacional que se atire ao mercado, os movimentos de curto prazo foram e sempre serão dominados pelo equilíbrio de forças entre o medo e a ganância. Enquanto humanos estiverem envolvidos em qualquer acção de trading, será à psicologia que caberá a árdua tarefa de tentar explicar a razão de ser das coisas e a missão impossível de as tentar prever.

Dito isto… estamos a viver tempos notáveis (L., esta é para ti), está a fazer-se história a sério e por conseguinte é bem possível que tudo o que escrevi acima também venha a ser posto em causa pelas novas realidades que se avizinham. Espero viver para assistir.


Sem comentários: